Economia da Atenção - Como as redes sociais ROUBAM sua ATENÇÃO e seu TEMPO?
- Antologia Crítica
- 3 de set. de 2024
- 10 min de leitura
Ok, saiu o vídeo novo do Normose, vamos lá assistir... E nessas, passa uma hora, eu esqueci o vídeo que eu tava assistindo e aconteceu de novo. Eu vou piscar e vai ter passado horas sem eu nem perceber.
Mas também não é como se eu conseguisse sair desse ciclo maldito. Talvez, pra você, isso pareça só mais um dia normal na internet. Esse sequestro rotineiro dos nossos cérebros, do nosso foco, da nossa atenção, é o que chamam de Economia da Atenção. Um ciclo poderoso de consumo que enriquece em cima de divertir sua atenção em troca dos seus dados.
E aí? Suave e tranquilo? Te peguei no pulo, não é? Você tava vendo o vídeo acelerado, não tava? É muito difícil prestar atenção numa coisa só, não é? Você tá sempre correndo, aumentando a velocidade de tudo e vendo o vídeo com pressa de chegar não sabe onde, não é?
Economia da Atenção
Por isso, então, precisamos conversar de Economia da Atenção. Tem tanto estímulo acontecendo a todo momento que a nossa atenção, um bem escasso, finito e precioso, tá gerando uma guerra em torno dela pra disputá-la.
O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca. Você já tinha pensado nisso? Quanto vale a sua atenção e o seu foco? Será que você consegue assistir esse vídeo sem olhar pro celular em nenhum momento? Desculpa, eu duvido. Feito o desafio, deixe seu like, inscrição e sininho e vamos em frente. Bom vídeo!
O que é atenção?
Pra falar de Economia da Atenção, precisamos definir, antes de tudo, o que é Atenção. Atenção é o ato de concentração mental sobre algo, um objeto ou uma informação e temos vários tipos de atenção. Além da atenção de concentração, podemos ter também a atenção dividida.
Quando são selecionados e processados diversos estímulos no nosso cérebro ao mesmo tempo, quando dirigimos enquanto conversamos ou quando estudamos enquanto ouvimos música. E cada vez que as tecnologias avançam mais, mais abas vamos criando nesse navegador chamado cérebro. O que não quer dizer que estamos acompanhando e processando tudo.
Então, é importante saber que o conceito de atenção tem definições culturais e que se alteram de acordo com o tipo de sociedade e tecnologia que estamos inseridos. Neste momento, a atenção de produtividade é de grande valor nessa sociedade. Na era da informação, sua concentração é produto que mantém a economia da atenção.
Sim, a atenção humana é uma mercadoria escassa e finita e por isso temos um campo de disputa econômica em torno dela. No capitalismo de plataforma ou capitalismo de vigilância, chamar nossa atenção é um modelo de negócio. Pode ser uma TV inteligente, um celular no bolso, uma TV que fala, uma assinatura da Netflix.
O importante é sempre estar perto de um dispositivo que apita, disputa o seu foco e te mantém num estado constante de ansiedade e com a eterna sensação de que algo vai acontecer a qualquer momento. Isso ainda tá muito genérico pra você? Ok, vem comigo que eu vou tentar explicar e desenhar mais claramente. Grande parte dos aplicativos de hoje são baseados num design pensado pra manter o usuário utilizando o aplicativo o máximo de tempo possível, correto? Botões vermelhos, design de rolagem infinita, notificações do celular.
Tudo é feito pra medir o que chama ou não a sua atenção e o que você investe ou não tempo aqui dentro. Assim, todo tweet, todo vídeo, todo post que chama a nossa atenção e a gente marca com um like é como uma moeda, um marcador que te coloca dentro de uma amostra de mercado ou de uma bolha, que se adapta a partir da movimentação que ocorre dentro dela. Agora sabe quando você pega aquele momento da rede que tá todo mundo falando da mesma coisa e empolgado numa sintonia só? Toda vez que isso acontece, você recebe uma injeção de prazeres pro seu cérebro, uma pequena dose de felicidade que provoca a sensação de prazer, e te leva a querer repetir esse momento o mais rápido possível.
E quando isso vai acontecer de novo? Aí que tá. Ninguém sabe. Não há como prever.
E quando você abre uma rede social, você nunca sabe se aquilo que você vai postar vai ser algo completamente passageiro e ninguém vai ler, se falará algo que te tornará rei da internet ou se você será cancelado e tomará pedra por vários dias. E é nesse mistério do que vai acontecer que continuamos tentando, postando e produzindo pra tentar entender o padrão que produz esse pico de felicidade. Mas é lógico, não há padrão nenhum e seu cérebro continua preso nessa busca como uma roleta russa, um cassino.
Não sabendo se receberemos uma recompensa, uma punição ou nada, ficamos viciados em tentar repetir padrões. Eu vou ser claro, as redes sociais são um cassino das suas emoções. O que vicia não é a vitória, mas girar a roleta, não saber o que vem pela frente.
Como num reality show, a gente quer espiar e ver alguma coisa diferente do esperado. Assim como na rede social, na maior parte do tempo nada acontece num reality show, mas pode acontecer. Então você fica preso esperando esse novo algo acontecer.
Spoiler, não vai acontecer e você passará a criá-los. Você já deve ter visto pessoas que ficam viciadas em treta e se perdem no próprio personagem, não é? Os marcadores de atenção mudaram nos tempos modernos. O excesso de telas e de tarefas que nos é exigido está ferrando a nossa capacidade de foco e concentração e alterando a forma que constituímos o nosso eu enquanto sujeito.
É a imposição da economia da atenção em nossas vidas, sem a gente nem perceber. Vamos pensar juntos. A cada dia circulam em média 1 bilhão de mensagens no Twitter.
No mesmo período, os 1 bilhão de usuários do Facebook curtem em média 6 bilhões de coisas. Já nós, gastamos em média 4 horas por dia em redes sociais. E eu poderia dizer com muita tranquilidade que se você está assistindo esse vídeo, você usa bem mais do que isso, não é?
Então eu lhe pergunto. Quantas dessas informações de fato são compreendidas? Quantas ganham reflexão? Quantas geram engajamento? E quantas não são apenas besteira pra embriagar nossa atenção? É impossível prestar atenção em tudo no mundo de hoje. Até porque quem produz o conteúdo também está preso pensando na melhor forma de chamar sua atenção. Então, se eu deixar esse vídeo desinteressante por mais de um minuto, você fecha essa aba e vai procurar outra coisa.
Essa competição extrema por chamar sua atenção está fazendo com que as pessoas apelem cada vez mais pra mensagens cada vez mais fáceis, simplificadas. E que apelem pra emoção pra puxar teu foco. Não é à toa que estamos vivendo a década dos líderes que aplicaram o marketing da comunicação nojenta. Esqueça veracidade, ciência, aprofundamento, pesquisa. É tudo uma questão de relevância. Números altos criam verdades. Fim.
Como o algoritmo é baseado em atenção, ou seja, em tempo gasto num conteúdo, a qualidade é deixada de lado. E anote o mais importante desse vídeo. Mesmo quando você comenta em algo que você odeia pra deixar claro quanto aquilo é repulsivo e nojento, o algoritmo vai entender que aquilo chamou sua atenção. E se prendeu tua atenção, tem valor financeiro. Joga de novo o conteúdo pra você, te deixando maluco o dia inteiro.
Não existe engajamento negativo. Todo movimento na rede gera um marcador de amostras de mercado. E não é à toa que a definição de quem somos por aqui passa pela negação daquilo que não somos e do que odiamos.
É muito importante ter a informação daquilo que você não é e daquilo que você não consome. E estamos todos presos nisso. E é por isso que os vídeos de YouTube têm títulos como esse aqui.
Ou porque os vídeos de cortes têm explodido. Queremos notícias rápidas, pedacinhos, o suficiente pra nos abastecer. É a TikTokização da vida.
É tanta informação que não dá mais tempo pra refletir, apenas consumir. Às vezes, há tantas opções que você fica paralisado. Você já deve ter sentido isso tentando escolher um filme no streaming ou um restaurante no aplicativo, não é? São tantas opções que você prefere escolher o que já conhece.
Hiper-personalização
Esta é a hiper-personalização, uma outra forma poderosa de prender sua atenção. Os algoritmos das plataformas funcionam assim. Reconhecer a navegação e os conteúdos mais acessados por você e, a partir dos seus hábitos e gostos identificados, oferecer mais e mais páginas iguais àquilo que você já consome.
Reforçando os comportamentos que você já tem. E deixando de lado confronto, dilema, contradição. Tudo isso é só você silenciar ou deixar de seguir.
Tapamos os nossos olhos pra realidade. E somos levados a falar apenas com nós mesmos. É pior do que falar pra convertido.
É falar com espelhos. Dentro dessas amostras de mercado, nos tornamos espelhos um dos outros, repetidores ativos das nossas crenças. Agimos por prazer e menos por efetividade.
E pior, até entre iguais. Qualquer dissemelhança leva ao conflito e ao desequilíbrio constante. O diálogo fica impossível.
Viramos cada um caricaturas de nós mesmos. Ok, suave, já entendi. A economia da atenção é um problema sério. Então é só fechar todas as guias, aplicativos, tudo que me distrai, sair das redes e já era. Viver daquilo que a natureza me dá, não é? Não.
Não é tão simples nem fácil. É uma via de mão dupla. Se as redes precisam de você pra vender anúncio, você também precisa dela devido à demanda social de trabalho, emprego, visibilidade.
As empresas precisam da sua atenção pra manter o seu negócio aberto e você topa perder a privacidade em troca de conforto e alguns atalhos sociais.
Então qual efeito isso terá no longo prazo? As plataformas são empresas bilionárias e têm as melhores equipes de profissionais do mundo, estudando som, design e comportamento social, tudo pra te manter aqui dentro. É quase um ciclo de abuso jogar tudo no colo do usuário, propondo apenas uma saída individual.
É briga de pau e pedra contra canhão. Então não é que você não tá mais conseguido se concentrar e ter foco. É porque nos habituamos a verificar o nosso celular 200 vezes por dia e é impossível se concentrar desse modo.
Não é só sair das redes sociais
Há muito mais coisas além disso. Dito isso, acho que eu posso dar um passo atrás nesse vídeo pra não te tornar um tecnofóbico.
Eu enfatizei apenas a parte ruim de tudo isso aqui. Não podemos perder de vista que com essa mesma tecnologia podemos aproximar pessoas, acessar amigos. Abandonamos os mapas e podemos sair por aí em qualquer lugar com o GPS.
A quantidade de material disponível pra fazer pesquisa de arte, música, TV, é infinitamente maior do que era antes. E você pode inclusive ver esse vídeo aqui, que é uma crítica sobre a tecnologia, usando tecnologia. O que eu tô querendo dizer com tudo isso é que a tecnologia em si não é boa nem má, muito menos neutra.
Todo esse vício, controle, uso abusivo, economia da atenção, tudo isso serve a uma estrutura maior. Um modelo de negócio econômico, a qual essa tecnologia passou a servir. Mas isso não é fixo.
Pode se alterar. Por isso, precisamos fazer com que pessoas percebam qual é o nosso papel de cidadão aqui dentro? Qual é a responsabilidade das empresas diante disso tudo?
É preciso questionar e resistir a esse modelo que não está nos servindo. O uso descontrolado das redes está criando algo na nossa psique, na nossa biologia, afetando nossos corpos, nossa história e nossa vida. E precisamos mediar o nosso uso sem cair em neoludismo, tecnofobia, de achar que a solução é individual e é só quebrar as máquinas.
Isso tudo é fuga covarde e ilusória. Se todos continuarem usando as redes ao seu redor, você continua preso a esse ciclo. Não adianta nada.
Não basta sair das redes. É preciso compreendê-las, tomá-las, se apropriar delas. A economia da atenção precisa de equilíbrio.
Nossa atenção é o nosso recurso principal. Nosso tempo não pode ser mercadoria. Nada disso é um problema que você resolve sozinho com um detox de celular.
Claro que às vezes se desconectar é tão importante quanto estar online. Claro que fazer nada às vezes é tão revolucionário quanto produzir. Pensar em novos hábitos pessoais também é poderoso.
Mas a economia da atenção é um problema maior. Então por isso se tornar ativista, especialista nesse campo digital é fundamental. Saber como agir, como se formar, como se comportar é tão importante e urgente como qualquer outra pauta do mundo.
Precisamos cobrar de empresas de tecnologia e do poder público. Discussões institucionais nesse sentido. Quais são os deveres de empresas e governos para garantir que essas tecnologias se comportem de maneira cada vez mais ética? Essa é uma resposta muito complexa que precisa ser elaborada.
Nunca tivemos na história empresas tão gigantes como Amazon, Facebook, Google, a base de usuários e a quantidade de dados que elas têm da população mundial. E a receita dessas empresas às vezes excede em países inteiros. Como não questionar o tamanho desse poder? Há mais de 100 anos atrás, a questão dos monopólios, trusts, cartéis já era discutido a fundo mundo afora.
E já é consenso o perigo das corporações que se tornam grandes demais. É a maldição da grandeza. Leis antitrusts de freios e contrapesos para uma empresa são fundamentais na manutenção da economia.
Então é claro que podemos nos prevenir e mudar nossos hábitos da economia da atenção, mas você é só um diante de um mar de poder das empresas. Estamos diante do problema central do capitalismo de plataforma. E é nessa ferida que precisamos tocar.
Então, para finalizar o vídeo, eu proponho uma reflexão para a gente levar para os comentários. Se o nosso tempo é um bem que nunca mais volta, se a nossa atenção foi transformada em moeda e somos constantemente colocados em nichos, como você resolverá e investirá a sua moeda da atenção? Onde você vai cultivar ecossistemas da rede? O que você vai priorizar de compartilhar? Como não trabalhar mais na base dos ressentimentos? Enfim, perguntas iniciais só para começar o debate.
Agora me conta, conseguiu ver o vídeo sem olhar a notificação do celular? Foi difícil? Doeu? Vamos conversar, eu te vejo daqui a pouco e, por favor, assine o Catarse ou faça um pix para que meu trabalho continue com cada vez mais autonomia e que eu não seja um escravo das plataformas.
Fica suave, fica tranquilo, eu te vejo por aí nas outras redes. É nóis e falows.
_ Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.